Como a todo o mundo, o início do isolamento pela pandemia da Covid-19 também me afetou – como profissional de saúde e como ser humano.
O começo do isolamento social foi abrupto, meio caótico para alguns, mas fomos nos adaptando. Essa adaptação nos acalmou, mas as novas rotinas não impedem que as emoções permaneçam “à flor da pele”. Pelo contrário, as mudanças fazem com que outras emoções, que talvez não se manifestassem com tanta frequência, passem a nos fazer companhia. Por isso, é muito importante falarmos sobre elas.
Estava dando palestras no sul do país quando tudo começou. Algumas das palestras foram canceladas, as reuniões tiveram que ser feitas virtualmente. Não consegui voltar para casa, em São Paulo, e precisei ficar em Curitiba, perto de uma parte da família, longe de outra. A agenda internacional marcada para os meses seguintes foi cancelada e muita gente precisou de ajuda para adequar e adaptar sua rotina de trabalho a uma realidade digital.
Como já venho trabalhando dessa forma há anos, me prontifiquei a ajudar outros profissionais e instituições nessa transição, que precisava ser muito rápida e eficaz. Juntos, de forma colaborativa, avançamos e crescemos dez anos em 35 dias. Foi um período de muita dedicação e nutrição de corpo e alma, além de uma série de emoções à flor da pele. Com base na solidariedade, usamos metodologias ágeis e human skills para estimular, planejar e executar de forma criativa algumas inovações destinadas ao bem comum.
Meu volume de trabalho aumentou muito nos últimos meses. Uma parte dele é remunerado, em times de inovação e na readequação das minhas atividades e startups, mas a maior parte é solidária mesmo, para ajudar. No meio disso tudo, pude conversar com muitos colegas e pessoas de outras áreas sobre percepções e sentimentos. Não tenho nenhuma intenção de tentar prever tendências sobre o que virá daqui para frente, quando essa tempestade passar, mas tenho observado e conversado sobre três pontos, em especial.
O primeiro deles é a convivência on-line e ética no ambiente digital. De uma hora para outra, nos vimos forçados a transportar nossas relações, sejam elas pessoais ou profissionais, para o virtual. Começamos tropeçando muito e ainda não estamos à vontade, mas é um futuro que estávamos adiando e se apresentou de maneira abrupta. Pessoas, empresas e organizações estão se adaptando, com mais ou menos resistência, a uma nova forma de conviver. Precisaremos buscar formas para humanizar esse contato. É possível e somos criativos o suficiente para encontrar essas maneiras.
O segundo ponto é olhar para dentro. Não foram apenas as nossas relações com os outros que foram modificadas, foi também nossa relação com nós mesmos. Entrar na nossa caverna, como diz o Marcelo Csermak, que é especialista em mindfulness e técnicas meditativas. Fomos colocados em quarentena com sentimentos como o medo, a solidão, a insegurança e a escassez. Na impossibilidade de sair de casa, não conseguimos evitar um olhar interno. Nos percebemos fugindo de nós por meio dos excessos (de notícias, conteúdos disponibilizados gratuitamente, lives ou comida), ficamos sem reação ou oscilamos entre um sentimento e outro. Alguns conseguiram aproveitar o momento para olhar a si mesmos com consciência e acolhimento. É esse movimento, o de olhar para dentro com carinho e compaixão, que precisamos aprimorar para os tempos que virão, sejam eles como forem.
O terceiro ponto é a colaboração. Nos vimos em situações que escancararam a interdependência que existe entre nós e que nos faz crescer. Parcerias antes impensadas estão surgindo e outras tantas começam a ser vislumbradas. Negócios com propósito ganham novo impulso e as parcerias do tipo “ganha-ganha” estão sendo estimuladas. Não há como prever o que essa crise vai acarretar em nossos sistemas econômicos, mas eles precisarão ter um olhar mais humano.
Tenho falado sobre sobre isso em algumas lives, no grupo “nós mulheres”, em palestras e aulas de pós-graduação on-line e ao vivo. Procuro tornar cada encontro digital um momento de conexão, reflexão e florescimento humano, buscando saídas criativas para a nossa saúde mental, inovação e empreendedorismo.
Sigamos juntos nesse caminho que ainda é desconhecido e difícil, mas que será de crescimento e desenvolvimento se soubermos como trilhar daqui pra frente.
Com esperança, Vanessa Suzuki.
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